junho 05, 2012

O “Egito”, o “egípcio” e o AO90

É habitual ler algumas avaliações negativas sobre o valor técnico do AO atendendo à eliminação do ‘p’ mudo em Egipto uma vez que o respetivo gentílico continua a ser egípcio.

No caso importa saber se a aparente discrepância Egito/egípcio é uma novidade na ortografia portuguesa trazida pelo AO ou se, pelo contrário, as irregularidades entre a designação de lugares (cidades, regiões, países) e os respetivos gentílicos são, afinal, normais e aceitáveis na língua portuguesa.

Procuremos, então, nomes de locais/países, em que os gentílicos estão mais próximos do étimo original (latino ou outro) do que a palavra usada para o lugar a que se referem:
      Chipre – cipriota
      Mónaco – monegasco
      Beja – pacense
      Braga – bracarense
      Bragança – brigantino
      Chaves – flaviense
      Coimbra – conimbricense
      Évora – eborense
      Guimarães – vimaranense
      Guarda – egitaniense
      Lagos – lacobrigense
      Santarém – escalabitano
      e agora também, Egito – egípcio.

Em conclusão, a existência de gentílicos sem correspondência estrita com a designação atual dos lugares respetivos não é uma novidade na Língua Portuguesa; trata-se antes de uma situação normal, ainda que rara, própria de uma língua que, na sua génese, é uma corrupção sistematizada da língua de origem, o latim.

Acresce que o 'p' de 'Egito' foi mantido na reforma ortográfica portuguesa de 1911 por um simples motivo: ao tempo, aquele 'p' era pronunciado; de outro modo teria sido eliminado como aconteceu por exemplo, com o 'c' de 'dicionário', apesar de ter mantido sido mantido em 'dicção'. Recorde-se que todas as consoantes etimológicas não pronunciadas foram eliminadas na reforma ortográfica portuguesa de 1911, restando apenas aquelas que, supostamente, influenciavam a pronúncia de uma vogal átona anterior.

Portanto, a questão que se coloca àqueles que imaginam que encontram um “erro técnico” em Egito/egípcio é a seguinte: o que é que o par Egito/egípcio (pós AO) tem de tão errado que o par Chipre-cipriota (antes e pós AO) e muitos outros têm de tão certo?

2 comentários:

  1. Em conclusão: nenhuma semelhança entre qualquer dos exemplos apresentados e a parvoíce do par "Egito" (porque não ler "égito"?) e "egípcio"...

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    1. Rato,
      Eu tinha a sensação de que todo o descordista tem QI abaixo de 50%. Depois, e tendo em atenção os efeitos que este pequeno post (e outros) teve na argumentário caturra, percebi que tinha que dividir os caturras no grupo A (QI entre 50% e 75%) e B (QI abaixo de 50%.
      Vc está no grupo B.

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